O primeiro filme a possuir som próprio foi "O Cantor de Jazz", feito em Holywood em 1927. A novidade chegaria a Natal com a inauguração do cinema falado do Cine-Teatro São Pedro, a 8 de abril de 1931. A 7 de julho do mesmo ano inaugurava-se o cinema sonoro do Teatro Carlos Gomes e, a 18 de outubro, era a vez do Royal entrar naquele caminho da modernidade.
Com a chegada do cinema sonoro, os velhos cinemas iriam perder muito de seu encanto em troca das novidades trazidas pelo progresso. Problemas sociais surgiriam com o desemprego de muitos músicos quando tinham no cinema sua principal ou única fonte de renda.
Enquanto isto não acontecia, entre 1911 e 1927, o silêncio do filme mudo era compensado pelos pianos ou conjuntos musicais que tocavam durante a exibição. Os pianistas mais conhecidos que tocavam no Royal foram Generosa Garcia, Garibaldi Romano e o popularíssimo Paulo Lyra; o piano solista era para as sessões comuns e dias de semana. Para dias especiais, com festas ou solenidades, tocava um conjunto, como o composto por Paulo Lyra ao piano, Manoel Prudêncio Petit na Flauta, Cândido Freire no saxofone, Calazans Carneiro no contrabaixo e João Cosme na bateria. Um grupo que tocou durante longos períodos no Royal Cinema era formado por Educardo Medeiros ao Violão, Tibiro no saxofone e TONHECA no "clarinete".O repertório era o comum para a época e as músicas se adaptavam ao tipo de cena que o filme apresentava; música alegre para filmes cômicos e langorosas valsas para cenas românticas.
Para melhorar o ambiente introduzindo músicas novas, o proprietário do Royal Cinema encomendou a Tonheca, já conhecido como compositor, uma valsa para ser tocada na abertura das sessões.
Certo dia, durante uma aula de música aos alunos do 3º ano da Escola Normal, o professor Tonheca fez um intervalo e perguntou quem na classe tocava piano. Apenas a aluna Maria Aparecida de Carvalho se apresentou. O professor, então disse:
-"NAS MINHAS NOITES DE INSÔNIA, COSTUMO TOMAR PAPEL E ARRANJAR ALGUNS COMPASSOS DE MÚSICA, MAS EM SEGUIDA, OS COLOCO EM UMA GAVETA".
E acrescentou que o seu amigo e colega José Gomes, então regente da banda da Polícia Militar, insistentemente lhe solicitava novas composições para o repertório daquela banda que, a esse tempo, fazia retretas semanais, muito apreciadas, aliás, nos jardins das praças Augusto Severo e André de Albuquerque.
-"DESEJOSO DE ATENDER AOS SUCESSIVOS PEDIDOS DO AMIGO, PORÉM SEM A NECESSÁIA INSPIRAÇÃO PARA REALIZAR QUALQUER NOVA COMPOSIÇÃO, RECORRI AO ACERVO DA GAVETA E DALI RETIREI ESTA VALSINHA E, COMO ESTAVA NA ORDEM DO DIA O NOME "ROYAL CINEMA" PARA A NOVA CASA DE EXIBIÇÃO CINEMATOGRÁFICA DA CIDADE ALTA, ACHEI POR BEM ACEITAR O MESMO NOME PARA ESTA COMPOSIÇÃO".
Assim, passou às mãos da aluna Maria Aparecida de Carvalho o manuscrito da valsa, harmonizada para piano, tendo ela sido a primeira pessoa a tocar "Royal Cinema" em Natal.
Com pouco tempo, José Petronilo de Paiva recebia a partitura manuscrita e dedicada a ele, tendo numa face a valsa "Royal Cinema" e na outra a valsa "Boas Festas".
O compositor recebeu cinquenta mil réis como pagamento pela valsa que o tornaria, imediatamente, o mais popular compositor da cidade. Recebido o pagamento, Tonheca saiu do Royal para o café Potyguarania, bem em frente, para festejar com os amigos. "Rico" e feliz, financiou bebida para quem quisesse, numa alegre comemoração, que terminou quando terminou o dinheiro...
A valsa "Royal Cinema" tornou-se logo conhecida por toda cidade. Sua melodia expressiva e cativante caiu logo no gosto do povo, invadindo bem cedo os saraus familiares através da sua partitura para piano à venda nas livrarias da cidade. Instrumentada para banda de música pelo autor, de imediato passou a ser presença constante nas retretas, ganhando espaço nas bandas de música da capital, do interior e de outros Estados e até Países. Na sala do cinema, a orquestra se postava para tocar enquanto se esperava o início da projeção. Antes de iniciar o filme, tocava-se a valsa de Tonheca; ao terminar a sessão, enquanto os presentes se retiravam, tocava-se também e, assim "ROYAL CINEMA" popularizou-se, desde os pianos das famílias aos salões de bailes populares ou aristocráticos.
NOTA: O Professor Cláudio Galvão publicou em 1998 o livro: "A Desfolhar Saudades" - uma biografia de Tonheca Dantas.
É um livro para ser lido com muito carinho, pois o seu conteúdo nos leva a conhecer em profundidade a vida e a obra desse talentoso músico e compositor potiguar. Os dados e informações contidas nesta página foram extraídas do livro acima referido.
Nota postada no blog Sou do Seridó: Royal Cinema foi criada em 1913, a pedido do famoso Cinema Royal que acabara de ser inaugurada na Capital do RN. O local funcionava na Rua Vigário Bartolomeu com a Ulisses Caldas. Hoje funciona a Procuradoria Geral de Natal. A valsa de Tonheca fez tanto sucesso, que foi tocada exaustivamente pela Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, infelizmente executada como sendo de “autor desconhecido”. Tonheca faleceu no dia 07 de fevereiro de 1940. Hoje com 97 anos de existência, Royal Cinema vai completar seu centenário de existência em 2013. Por Marcos Dantas
Com a chegada do cinema sonoro, os velhos cinemas iriam perder muito de seu encanto em troca das novidades trazidas pelo progresso. Problemas sociais surgiriam com o desemprego de muitos músicos quando tinham no cinema sua principal ou única fonte de renda.
Enquanto isto não acontecia, entre 1911 e 1927, o silêncio do filme mudo era compensado pelos pianos ou conjuntos musicais que tocavam durante a exibição. Os pianistas mais conhecidos que tocavam no Royal foram Generosa Garcia, Garibaldi Romano e o popularíssimo Paulo Lyra; o piano solista era para as sessões comuns e dias de semana. Para dias especiais, com festas ou solenidades, tocava um conjunto, como o composto por Paulo Lyra ao piano, Manoel Prudêncio Petit na Flauta, Cândido Freire no saxofone, Calazans Carneiro no contrabaixo e João Cosme na bateria. Um grupo que tocou durante longos períodos no Royal Cinema era formado por Educardo Medeiros ao Violão, Tibiro no saxofone e TONHECA no "clarinete".O repertório era o comum para a época e as músicas se adaptavam ao tipo de cena que o filme apresentava; música alegre para filmes cômicos e langorosas valsas para cenas românticas.
Para melhorar o ambiente introduzindo músicas novas, o proprietário do Royal Cinema encomendou a Tonheca, já conhecido como compositor, uma valsa para ser tocada na abertura das sessões.
Certo dia, durante uma aula de música aos alunos do 3º ano da Escola Normal, o professor Tonheca fez um intervalo e perguntou quem na classe tocava piano. Apenas a aluna Maria Aparecida de Carvalho se apresentou. O professor, então disse:
-"NAS MINHAS NOITES DE INSÔNIA, COSTUMO TOMAR PAPEL E ARRANJAR ALGUNS COMPASSOS DE MÚSICA, MAS EM SEGUIDA, OS COLOCO EM UMA GAVETA".
E acrescentou que o seu amigo e colega José Gomes, então regente da banda da Polícia Militar, insistentemente lhe solicitava novas composições para o repertório daquela banda que, a esse tempo, fazia retretas semanais, muito apreciadas, aliás, nos jardins das praças Augusto Severo e André de Albuquerque.
-"DESEJOSO DE ATENDER AOS SUCESSIVOS PEDIDOS DO AMIGO, PORÉM SEM A NECESSÁIA INSPIRAÇÃO PARA REALIZAR QUALQUER NOVA COMPOSIÇÃO, RECORRI AO ACERVO DA GAVETA E DALI RETIREI ESTA VALSINHA E, COMO ESTAVA NA ORDEM DO DIA O NOME "ROYAL CINEMA" PARA A NOVA CASA DE EXIBIÇÃO CINEMATOGRÁFICA DA CIDADE ALTA, ACHEI POR BEM ACEITAR O MESMO NOME PARA ESTA COMPOSIÇÃO".
Assim, passou às mãos da aluna Maria Aparecida de Carvalho o manuscrito da valsa, harmonizada para piano, tendo ela sido a primeira pessoa a tocar "Royal Cinema" em Natal.
Com pouco tempo, José Petronilo de Paiva recebia a partitura manuscrita e dedicada a ele, tendo numa face a valsa "Royal Cinema" e na outra a valsa "Boas Festas".
O compositor recebeu cinquenta mil réis como pagamento pela valsa que o tornaria, imediatamente, o mais popular compositor da cidade. Recebido o pagamento, Tonheca saiu do Royal para o café Potyguarania, bem em frente, para festejar com os amigos. "Rico" e feliz, financiou bebida para quem quisesse, numa alegre comemoração, que terminou quando terminou o dinheiro...
A valsa "Royal Cinema" tornou-se logo conhecida por toda cidade. Sua melodia expressiva e cativante caiu logo no gosto do povo, invadindo bem cedo os saraus familiares através da sua partitura para piano à venda nas livrarias da cidade. Instrumentada para banda de música pelo autor, de imediato passou a ser presença constante nas retretas, ganhando espaço nas bandas de música da capital, do interior e de outros Estados e até Países. Na sala do cinema, a orquestra se postava para tocar enquanto se esperava o início da projeção. Antes de iniciar o filme, tocava-se a valsa de Tonheca; ao terminar a sessão, enquanto os presentes se retiravam, tocava-se também e, assim "ROYAL CINEMA" popularizou-se, desde os pianos das famílias aos salões de bailes populares ou aristocráticos.
NOTA: O Professor Cláudio Galvão publicou em 1998 o livro: "A Desfolhar Saudades" - uma biografia de Tonheca Dantas.
É um livro para ser lido com muito carinho, pois o seu conteúdo nos leva a conhecer em profundidade a vida e a obra desse talentoso músico e compositor potiguar. Os dados e informações contidas nesta página foram extraídas do livro acima referido.
Nota postada no blog Sou do Seridó: Royal Cinema foi criada em 1913, a pedido do famoso Cinema Royal que acabara de ser inaugurada na Capital do RN. O local funcionava na Rua Vigário Bartolomeu com a Ulisses Caldas. Hoje funciona a Procuradoria Geral de Natal. A valsa de Tonheca fez tanto sucesso, que foi tocada exaustivamente pela Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, infelizmente executada como sendo de “autor desconhecido”. Tonheca faleceu no dia 07 de fevereiro de 1940. Hoje com 97 anos de existência, Royal Cinema vai completar seu centenário de existência em 2013. Por Marcos Dantas
Sou neta de Tonheca Dantas , filha de Tonheca Dantas Filho hoje com 95 anos de idade, e para mim nao existe valsa mais linda no mundo.
ResponderExcluirOi, neta de Tonheca Dantas. O professor Cláudio Galvão
Excluirda Universidade Federal do Rio Grande do Norte está interessadp
na partitura versão para piano
publicada pela Casa Bevilacqua do Rio de Janeiro, em 1914.
Podeeria informar como localizar?
Meu e-mail é: eunicamara@yahoo.com.br
Fico grata se puder nos ajudar nessa pesquisa.
Att,
Eunice Câmara de Oliveira.
Bibliotecaria.
Olá, neta de Tonheca Dantas, sou professor da UFRN e preciso do seu contato e da partitura de Royal Cinema.Qual seu email?
ExcluirAtt,
Arthur Ribeiro
arthurjorge_ribeiro@hotmail.com
comcordo com a última comentarista
ResponderExcluirA valsa nos pega mesmo é belíssima e desde que ouvi pela primeira vez na década de 80 fiquei refém. Utilizei num conto que depois Véscio Lisboa transformou numa peça teatral com a valsa tocada durante a apresentação. Hoje, 6 de abril de 2012 depois da Banda de música de Carnaúba dos Dantas tocar um pecacinho num programa de tv, minha sogra, Hilda Alves Bezerra, 96 anos e com mal de Parkinson cantou as primeiras estrofes e depois me disse, esqueci o resto! E eu até agora, desde 81 não sabia que existia uma letra. Estou agora revirando a internet, mas se alguém souber da letra e do letrista por favor mandem para o e-mail clanguerra@gmail.com, que eu agradeço. Por fim gostei da página e aprendi um pouco mais. Obrigado Claudio Guerra
ResponderExcluirEssa letra foi publicada em 1998 no livro: "A Desfolhar Saudades - Uma biografia de Tonheca Dantas" de Cláudio Galvão, a qual transcrevo a seguir:
ExcluirRoyal Cinema
(Versos de Joaquim Bezerra Júnior)
Anjo do céu, flor de minh’alma
Por que me deixas no deserto, amor?
Vivo sofrendo entre ruínas
Entregue ao dissabor
De tua ausência atroz eu fico a soluçar.
Ai! do pranto que derramo
Jamais teu pobre gaturamo vai
Gemer, oh astro do meu sonho
Como outrora em ternos carmes
Decantava estrema a trescalar do olor
Deste amor.
Ai! sorrindo me dizias,
Oh meu astro de poesias
Só a morte roubará
Nosso amor, nosso amor.
Que será!
Mas o tempo foi bastante
Pra teu amor inconstante,
Entre urzes do martírio
Me deixar, me deixar.
Oh!
Me deixas entregue aos dissabores
E vais em busca de outro amor,
Levando a alma cheia de esplendores
Que dera com loucura ao teu pobre cantor.
Lamentando a tua ausência eterna
Esta alma devaneia
Como um astro salutar e atroz
E a minha voz é um funeral de horror
Meu amor, do pobre trovador…
(Saraiva, Gumercindo, "TROVADORES POTIGUARES", 1962.)